28.5.12

Instalação de Daniel Caballero no Paço das Artes questiona o verde urbano


maio 24, 2012
Por Ricardo Cardim, maio 24, 2012


Entrevista á Ricardo Cardim originalmente publicada no blog Árvores de São Paulo em 8 de maio de 2012.

Daniel Caballero - Viagem pitoresca através do espaço da minha casa, Paço das Artes, São Paulo - SP, 08/05/2012 a 01/07/2012

Daniel Caballero, Artista apresentado recentemente aqui no Blog, tem trazido interessantes reflexões sobre o verde presente na cidade de São Paulo e sua real “naturalidade”, assim como a ocorrência dos raros remanescentes da paisagem original. Na instalação inaugurada ontem no Paço das Artes na Cidade Universitária, ele traz interessantes abordagens sobre o tema, com desenhos precisos e composições que valem uma visita. Abaixo, uma breve conversa sobre seu último trabalho:

Como começou essa proposta?
Sempre que saio na rua, observo detalhes que anoto, fotografo ou desenho. Em um desses passeios urbanos, parei para ver uma árvore na calçada, com a copa dividida pela fiação elétrica. A árvore com o grande buraco no meio, me levou a pensar em topiaria, e jardins franceses. Que tipo de jardinagem sem intenção é essa? Seria um tipo de topiaria inconsciente? Seja como for, e claro, bem distante dos jardins de Versalhes, me perguntei sobre a consequência dessa jardinagem no nosso dia a dia. A partir daí comecei a pesquisar áreas naturais no espaço urbano.
Assim, aos poucos comecei a me sentir como um naturalista viajante, um tipo de Rugendas que retrata o exótico, bem do lado da minha casa.

O que você retratou nas suas esculturas e desenhos?
Encontrei coisas muito curiosas, por exemplo, por que pintar uma pedra de branco? por que ter uma jardineira com grama em cima de um gramado? Tive um atordoamento nos sentidos pelo grande número de casas sendo demolidas para construção de prédios. De repente ruas e referências familiares mudam e a geografia da cidade vira outra coisa. Como podemos gostar de um lugar, onde cada vez menos temos memórias, nem relações afetivas com a paisagem?
É uma colagem que só percebemos saindo da rotina diária.

Que tipo de natureza você encontrou?
Não existe natureza propriamente dita em São Paulo, no sentido de um lugar que vive e se desenvolve com autonomia própria. O que existe são representações da natureza. É muito dificil termos certeza quanto tempo uma árvore na calçada vai viver, elas estão a mercê dos caprichos dos governantes, das vorazes empreiteiras e dos próprios moradores . Da mesma forma, gramados, são carpetes vivos, construídos para pedestres andarem por cima, pobres como ambiente natural. Mas é claro que alguns organismos da natureza se adaptam bem, tem muitos insetos nos gramados, e muitos ratos nos esgotos. De qualquer forma, a questão é que a cidade é totalmente impermanente, tudo muda e a natureza real tenta existir apenas em áreas invisíveis.

Áreas invisíveis?
Sim, terrenos baldios momentaneamente abrigam natureza, eles passam como áreas invisíveis, que ninguem cuida, ninguem vê. Enquanto são potencialmente algo, mas não são nada para as pessoas, a natureza as vezes sobrevive. Um bom exemplo é o cerradinho atrás do Extra do Jaguaré – atual Parque Usteri. O que era aparentemente um terrenão baldio, é na verdade é uma pequena e rara amostra da paisagem original da cidade.

Como essa pesquisa influênciou teu trabalho?
Meus últimos trabalhos, partiram de desenhos de observação até chegar nas instalações. Sempre abordei aspectos de uso do espaço urbano, e já vinha flertando esse embate entre artificialidade e natureza, mas acho que essa pesquisa deixou mais evidente esse confronto.
Prefiro ser um artista de campo, o ar puro ou não da cidade revela muitas coisas interessantes.

Daniel Caballero - Viagem pitoresca através do espaço da minha casa, Paço das Artes, São Paulo - SP, 08/05/2012 a 01/07/2012


Posted by Patricia Canetti at 10:06 AM | Canal Contemporâneo -Entrevista á Ricardo Cardim originalmente publicada no blog Árvores de São Paulo em 8 de maio de 2012.


25.5.12

O pitoresco mora ao lado

Por Raphael Fonseca para o Jornal do Comércio

No Paço das Artes, em São Paulo, estão abertas as exposições relativas à 2ª e 3ª Temporada de Projetos. Seis artistas com diferentes pesquisas visuais apresentam seus trabalhos. Após se passar pelas pinturas de Paulo Almeida ou pelas colagens com cédulas de Rodrigo Torres, há o encontro com outra série de imagens expostas sobre a parede.
Prendedores sustentam folhas de papel de diversos tamanhos que sutilmente se sobrepõe e sugerem a forma de um irregular mosaico. À primeira vista são “desenhos detalhados da natureza”. Com um olhar atento, fica claro que nenhuma imagem é dada de modo direto. Uma árvore surge ao centro do papel, numa configuração semelhante à ilustração científica. Seu protagonismo, porém, é parcial; um poste, um filho da “natureza hominídea”, é envolvido por seus galhos. Há o atravessamento de elementos discrepantes: a árvore que se alastra de modo horizontal e pictórico através de suas folhas e a coluna elétrica que intervém linearmente com seus cabos que escapam das margens. Ambas as bases destas diferentes colunas metropolitanas estão pintadas de branco; o que leva o homem a tentar aproximar visualmente árvore e poste? De que adianta homogeneizar seus “pés” se será necessário rasgar parte da árvore para que a eletricidade se propague?
Um agrupamento de objetos no espaço expositivo amplia a tensão encontrada nestes desenhos. Uma estrutura assimétrica construída com pedaços de madeira e fita adesiva se transforma em um altar para fragmentos de florestas – não há espaço para árvores, mas para maquetes da paisagem, pequenos vasos de plantas. Canos se interceptam e criam um ruído na apreensão desta estufa fictícia: a linha que ditava ambiências sobre o papel, ganha um caráter expressivo no espaço e impossibilita o domínio por parte do público. Há aqui a lembrança visual de Franz Weissmann somada à consciência de que os ventos contemporâneos são outros. Como dar conta das múltiplas direções desta instalação em um olhar ou fotografia?
“Viagem pitoresca através do espaço ao redor da minha casa” é o título deste trabalho de Daniel Caballero. Não se pode mais falar num “Brasil”, tal qual Rugendas o fez em seu álbum de imagens, em 1835, assim como não é possível dar conta da diversidade paisagística de São Paulo. Por outro lado, é possível compartilhar a apreensão daquilo que está ao redor de nosso ninho e codifica-lo em visualidade. Transformar suas gambiarras em arte é iluminar não só as precariedades de outras cidades pelo globo, mas nos fazer refletir sobre o frágil e provisório entre e dentro de nós mesmos. O pitoresco mora ao lado.


11.5.12

Espaço Múltiplo - Carpe Diem, Arte e Pesquisa

Carpe Diem Arte e Pesquisa, é uma plataforma de pesquisa, experimentação e estudos das artes contemporâneas, em Lisboa.
Para quem estiver em Portugal, vale muito a visita.
Estou colaborando no Múltiplos, um projeto que visa dar sustentabilidade á Instituição, que é totalmente independente.
Então... tudo isso pode ser seu, é só entrar em contato que eles entregam rapidinho, e se quiser mais empolgação entre no site que tem outros artistas muito interessantes.

DANIEL CABALLERO
Árvore n° 09, 2011
Impressão jacto de tinta de pigmento sobre papel fine art
30x40 cm
Edição de|Editions of 30 + 3 p.a. / a.p.
A impressão é acompanhada de Certificado de Autenticidade. |The print is accompanied by a Certificate of Authenticity.

Temporada de projetos do Paço das Artes 2012


Participo com o trabalho "Viagem pitoresca através do espaço ao redor da minha casa", resultado de caminhadas investigativas na cidade.