Por Ricardo Cardim para blog Árvores de São Paulo
Poucos são os artistas que relacionam o meio ambiente urbano e suas questões. Daniel Caballero, artista paulistano, é um raro exemplo de conhecedor e observador das paisagens de São Paulo e seus paradoxos, transitando com fidelidade nas suas obras entre os primitivos campos-cerrados e as atuais áreas verdes urbanas na metrópole do século XXI. Na sua atual exposição “O Jardim”, o artista traz imagens e desenhos muito interessantes também do ponto de vista botânico e histórico.
Na exposição, vários painéis apresentam um acúmulo de antigas imagens naturalistas de diferentes épocas misturadas a fotografias atuais de plantas de jardim ornamentais, criando um forte contraste entre o passado nativo e a vegetação exótica. Em outra parte, grandes extensões de vidros foram pintadas recriando um exato cerrado típico dos antigos Campos de Piratininga e suas plantas, como a língua-de-tucano, barba-de-bode e candeias. A transparência do vidro cria uma impressão muito interessante entre o desenho da paisagem ancestral daquele local (os Campos de Piratininga com sua vegetação agreste) e a realidade logo atrás, com a vista dos extensos jardins de plantas exóticas de todas as partes do planeta e edificações, variando conforme o horário.
Ao meu ver, o principal legado ambiental do trabalho é o questionamento sobre uma paisagem que existiu durante milhares de anos no local (os campos-cerrados) com toda uma exuberância e biodiversidade própria, e que em poucos séculos desapareceu a ponto de não trazer nenhum tipo de conexão com a atual metrópole e seus habitantes. A ideia de natureza para a atual geração de paulistanos passou a ser a paisagem artificialmente implantada nas ruínas desse cerrado, composta pelas edificações, ruas e a atual massa verde de plantas ornamentais e exóticas do paisagismo e arborização, como o pândano, que nada tem a ver com aquela paisagem original totalmente esquecida, ponto explorado pelo artista com maestria nos painéis de colagens e vitrais pintados e suas transparências através das plantas nativas, gerando a idéia de uma “vegetação-fantasma”.
http://arvoresdesaopaulo.wordpress.com/2013/07/19/natureza-paisagem-original-e-urbana-de-sao-paulo-pelo-artista-daniel-caballero/
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